ARTE E TECNOLOGIA: UMA VISÃO HISTORICISTAArte e tecnologia, uma nova relação?:A arte tem como natureza de sua criação, o objetivo de modificar o que está em voga, que criar discussões diante do comum, de provocar e surpreender a sociedade fazendo-a refletir dos conceitos e padrões que vem seguindo. Por buscar romper com os padrões do presente, a arte recebe também um caráter antecipador, como se buscasse sempre “acordar” as pessoas para os avanços que estão sempre por vir.
Com o passar do tempo, cada vez mais conhecimento passou a ser produzido, por conseqüência são necessários novos meios de se acumular essa produção. Os computadores foram o principal marco para o armazenamento de dados. Um bom exemplo disso são as bibliotecas, que não mais têm extensas pastas com os volumes do acervo enumerados. No entanto, a tecnologia avança sem freios e pouco a pouco vai tomando o espaço do homem em tarefas corriqueiras.
quem critique esse avanço descontrolado, e analisam conseqüências graves dessa tecnologia, industrialização e automação; mas há também quem defenda que as máquinas podem propiciar maior conforto, e vêem com otimismo toda essa tecnologia.
A arte contemporânea e tecnológica é mais aberta, propondo novos meios de produção e perdendo um pouco do conceito de autoria. A possibilidade de conexão permite a várias pessoas, mesmo que em lados opostos do globo, uma interatividade em questão de segundos que acaba tornando conjunta a maior parte da produção artística.
A tecnologia, ainda, permite novos meios de produção, de difusão e de recepção da imagem, trazendo consigo um mundo de novos significados. A arte tecnológica, no entanto, carrega o fardo de parecer tirar a materialidade da produção artística.
A arte tem sentido ambíguo, e, como já dito anteriormente, tem como objetivo tirar as pessoas do senso comum e trazê-las a discussões do novo. Embora pareça que tecnologia remeta sempre às discussões da arte contemporânea, é válido ressaltar que arte e técnica significaram a mesma coisa para o renascimento, ou seja, a inovação e a modernidade se caracterizam pela sintonia da arte com as tecnologias de ponta de determinado período.
Com isso então pode ser escrita uma nova história da arte, onde tudo se torna mais dinâmico; a concepção de espaço é modificada, por exemplo, com o emprego da “perspectiva”, que mudou as maneiras de ser ver o mundo.
A tecnologia entra nesse aspecto como o elemento que confere visibilidade ao invisível, logo, o que se vê em uma tela de computador, é apenas uma das possibilidades geradas por aquele código desenvolvido pelo artista. Essas freqüentes mudanças na concepção de espaço que periodiza a história da arte.
A visão global da arte agora é algo recheado de novas combinações. Essas combinações desencadeiam em um conjunto de transformações que, por conseqüência, interferem na concepção da mesma obra de arte, gerando múltiplas interpretações. A arte, apesar de ser realidade, não quer mais apenas se restringir a reproduzi-la, ela quer ainda o poder de interferir na mesma. Antes ela capturava cenas do mundo, hoje ela é capturada repetidamente gerando novas interpretações.
A incorporação de máquinas eletrônicas põe fim aos suportes convencionais – tela, papel, madeira – e às ferramentas – lápis, tinta, nanquim -, gerando ainda uma nova visibilidade para a arte.
Essa nova concepção de arte é mais de simulação, ou seja, são ciberespaços, redes virtuais, transmissão por satélite. Esses espaços são como cenários que levam ao sujeito experimentar novas sensações e percepções.
A arte nos orienta no mundo, pois mostra formas de percepção e de como agir, pensar, fugir da rotina, ultrapassando e reinventando limites. A arte utilizando devida aparelhagem é ainda mais expansiva, e também ainda intimida muitos dos espectadores.
Ideário e sintaxe: perspectivas para a história da arte e tecnologia das três últimas décadas do século:“Um olhar superficial sobre a história da arte do século XX revela a desproporção provocante entre adventos e desenvolvimentos”
O que faz um Historiador da Arte?
O trabalho de um Historiador da arte é o de um expert e, as vezes, de um historiador: reconhecer as obras, sua autenticidade, emitir um julgamento crítico acerca de seus valores históricos atuais, situá-las no contexto da evolução histórica de cada período, aproximá-las, se for o caso, arqueologicamente, a fim de recuperar as etapas técnicas de sua execução, procurar documentos que a eles se relacionem e, finalmente, apresentar suas obras de maneira a torná-las compreensíveis a um público mais amplo.
O alvo da História da Arte é trabalhar com valores definidos pelos grupos humanos, pois o conceito de arte se vincula a um tipo de valor por sua vez ligado a um trabalho e suas técnicas, sendo resultante de atividades mentais e operativas.
Pode-se afirmar da existência de uma operação de convergência de dois movimentos de ação do historiador: um envolvendo a anotação dos primeiros registros e o outro a reflexão imediata a respeito destes.
Dividiram-se em dois territórios (que na verdade estão em comum) as perspectivas da História da Arte: o Ideário e a Sintaxe, em contínua modificação.
A meu ver, nos anos 70, o primeiro elemento, o Ideário, era muito mais vital, ativo, referencial e paradigmático que o segundo. Enquanto, nos anos 80, a ênfase se inclina para a Sintaxe, influenciando no curso da história a crescente importância da interatividade. Esta não é um elemento novo a ser detectado na História da Arte Contemporânea, cabe-me lembrar as primeiras experiências, fora do campo da Arte e Tecnologia, no início dos anos 60, com o grupo de artistas ligados ao neoconcretismo. No contexto deste movimento, emergente no Brasil, especifica-se e elabora-se um preceito humanista de entrega da obra para que o outro, o público, a complete com sua intervenção: como o pioneiro da arte ambiental Hélio Oiticica, e os objetos manipuláveis e não representacionais de Lygia Clark.
Voltando à questão das abordagens direcionadas ao ideário e a sintaxe, se estabelece uma contradição que, harmonicamente, se integra no discurso de idéias. Em outras palavras, a constatação da impossibilidade de, a partir do final dos anos 80, obter-se registro mediamente passível de um arrolamento de todas as operações e idéias envolvidos no processo de arte e tecnologia. Por outro lado, se idealmente isso fosse possível, o resultado seria uma crônica neutra, a simples constatação de eventos sem restituição mínima do passado destas operações artísticas.
A estratégia para superar o impasse da pesquisa foi a de focalizar o ideário do artista que, desde os anos pós-Segunda Guerra, vem se tornando um teórico, intérprete do seu trabalho. O discurso auto¬-referencial e interpretativo dos artistas vem crescendo em paralelo com os textos de filósofos, estetas e comunicólogos, mas continuam rarefeitos os discursos segundo a perspectiva da História da Arte.
Esta pouca presença dos historiadores da arte, envolvidos nesta problemática, se deve à explosão dos conceitos básicos da História no campo da tecnologia e arte. O ponto de partida é o estudo e o resgate das idéias ou do ideário dos artistas, operadores e pensadores envolvidos com outros meios anartísticos, as mídias, a partir da segunda metade dos anos 60.
O ideário que se dinamiza em operações com os novos meios parece estar preocupado com a natureza dos meios não convencionais, e com suas possibilidades não só de operacionalidade, mas de jogo poético de percepção, emissão, comunicação e recepção. Claramente no Brasil constroem-se circuitos clandestinos de distribuição dos trabalhos de pessoa a pessoa, como as séries On-Off ou aproveitando o sistema de distribuição dos correios, atingindo dimensões nacionais e internacionais.
Se existem a consciência e a denúncia da indústria cultural entre os artistas, a preocupação política não é constante. Com efeito, a pesquisas são direcionadas para outras facetas da poética dos meios não convencionais, basicamente os que usam mídias da comunicação.
Neste momento começam a se delimitar historicamente os novos territórios da arte e mesmo da cultura, relacionados com as tecnologias, pois existe desde os anos 70 a profunda consciência do antagonismo entre o pensar e o fazer arte dos artistas operadores das tecnologias em confronto com os artistas produtores da arte de mercado e seu sistema e espaços (galerias, museus, eventos internacionais etc.). Os primeiros estabelecem seus próprios circuitos de ação e veiculação – cooperativas, “famílias” de produção de arte coletiva, já se definindo, assim, as tribos dos anos 90.
Com raras exceções, críticos e historiadores de arte pouco acompanharam as propostas desta natureza. O vazio do discurso de idéias é ocupado pelas vozes que partem dos artistas, que passam a falar dos seus trabalhos, suas intenções, conduzindo uma dinâmica de idéias e contraste com a falta de expressão da História da Arte relativa a este período. Os anos 80 são caracterizados por grandes modificações no curso da arte com as tecnologias; são modificações decorrentes da universalidade e o impacto da informática e a crescente complexidade dos multimídia, intermídia e operações telemáticas.
Integrado o processo da pós-modernidade, o contexto da arte e tecnologia na verdade se apóia na performance do computador. Ao dispor de uma ferramenta tão poderosa, é o momento da emergência de três questões decisivas: o status da imagem gerando uma nova estética das mídias, a telemática e a universalidade e novo humanismo ou humanismo biônico-ciber-humanismo.
Nos anos 80, as questões relativas à sintaxe prevalecem em relação às do ideário estético/poético nas operações de arte e tecnologia, trazendo as reflexões direcionadas à instabilidade da imagem à estética da comunicação e universalidade da cultura da microinformática. Nesta época as universidades, os museus e os institutos de pesquisa têm um papel de ancoragem das operações artístico-tecnológicas devido às facilidades de equipamentos e projetos de pesquisa relacionados à inteligência artificial.
Nos anos 90, o curso histórico da arte e tecnologia edifica fundamentos do novo humanismo. As idéias giram em torno do resgate integral do ser humano. As compartimentações do saber, as especificidades, heranças do século XIX são derrubadas.
Uma linha importante desta trajetória histórica é a relação que se estabelece entre a dimensão cerebral do saber, em interface com as estruturas eletrônicas, assinalando um ponto de mutação da humanidade.
Arte e Tecnologia: produções recentes no evento “A arte no século XXI”:- O evento Arte do Século XXI: a Humanização das Tecnologias , voltado para a discussões das transformações ocasionada pelas relações entre arte e tecnologia. Nesse fim de século teve a curadoria geral de Diana Domingues, como coordenador da exposição Gilbertto Prado e como coordenadora do colóquio Ana Claudia Mei de Oliveira .
- Teve como objetivo o de trazer algumas produções artísticas recentes utilizando dispositivos tecnológicos na intenção de revelar novas poéticas.
- As obras foram expostas pela rede internet, imagens e interações via computador e instalações
- Foram cerca de 25 obras, entre trabalhos individuais e em grupos
- Alguns dos artistas e suas respectivas obras:
• Stéphan Barron - Le jour et la nuit
• Suzete Venturelli - Construção e Animação do Corpo Humano através da Computação Gráfica
• Wagner Garcia - Tinkering with Evolution
• Ruggero Maggi - The Birth of Ideas
• David Rokeby - Very Nervous System
A obra de arte na era da reprodutibilidade técnica:A obra de arte sempre foi reprodutível manualmente, quando era feita, por exemplo, por discípulos dos grandes artistas. No entanto, a partir da reprodutibilidade técnica, a obra de arte passa ser reproduzida de uma forma mais precisa, formas essas que foram evoluindo ao longe da história, começando pela xilogravura em chapas de cobre, e indo até a utilização de instrumentos modernos, como a fotografia.
Porém, ao se reproduzir uma obra de arte, pode-se dizer que, ao consumar este fato, a aura da obra de arte é atrofiada. A aura está relacionada a questão da unicidade da obra, ou seja, ‘o que e o agora’ da obra, que é o conteúdo de sua autenticidade, o que identifica o objeto e sua história. A reprodução da obra desvaloriza “o aqui e o agora”, fazendo com que a obra pare de ter uma existência única e passe a ter uma existência serial, que, indo ao encontro do telespectador, faz com que o objeto seja atualizado. Assim, a destruição dessa aura seria como se fosse mudar a forma de percepção da obra de arte.
Além disso, vale ressaltar que a obra de arte que antes possui um valor ritualístico, ou seja, um valor de culto, com a reprodutibilidade técnica, a obra passa a ter um valor de exposição, ou seja, a obra passa a ser criada para ser reproduzida, como por exemplo no cinema, onde a reprodutibilidade técnica do filme tem seu fundamento imediato na técnica de sua produção, que permite a difusão em massa da obra.
Ao se emancipar dos seus fundamentos no culto, na era da reprodutibilidade técnica, a arte perdeu qualquer aparência de autonomia, porém a época não se deu conta da refuncionalização da arte, decorrente dessa circunstância. Devido a isso, foi questionado se o cinema e a fotografia eram ou não arte. Tentaram assim, inserir na obra cinematográfica alguma característica para que ela fosse considerada arte. Dessa forma, alguns teóricos introduziram na obra elementos vinculados ao culto. Assim, se for observado, até nos dias de hoje alguns autores buscam nessa mesma direção o significado do filme e o vejam não mais na forma do sagrado, mas na do sobrenatural.
Ademais, com a reprodutibilidade técinica as massas passaram a ter mais acesso às obras, produzindo assim um novo modo de participação nas mesmas. A massa procura na obra a distração, diferente do conhecedor de tal coisa, que aborda a arte como recolhimento. Assim é definido os conceitos de reprodução ótica e tátil, respectivamente.
Mudança de paradigma na criação de imagens:- A técnica a contrapelo da ideologia:
A oposição entre cultura e técnica, entre homem e máquina, é falsa e sem fundamento. A ideologia que vê a técnica como uma mera montagem de matéria, sem significação, reflete uma postura maniqueísta que opõe a cultura à civilização, o corpo ao espírito.
Como afirmou P. Valéry no seu ensaio A Conquista da Ubiqüidade de 1934, as artes se transformaram radicalmente pela influência dos meios técnicos de produção social. Os meios técnicos de produção da arte não são meros aparatos estranhos a criação, mas causadores dos procedimentos do processo criador das formas artísticas que possibilitam.
Toda arte está situada no cruzamento de três linhas evolutivas, a elaboração das formas de tradição, do presente e da recepção, dando origem a vários vetores como: - slide – Assim fica evidente que a tecnologia dilata as fronteiras do passado, abre perspectivas para o futuro e coloca em crise o presente, abrindo novos potenciais para a invenção.
Passado, presente e futuro; invenção, produção e significação estão atravessados pelas novas formas tecnológicas. Ou, como diria Wiener “o pensamento de cada época reflete-se em sua técnica”.
A pergunta não é se as tecnologias são ou não arte. A questão correta é esta: o que estas tecnologias fazem com a arte? Ou como os produtores “artísticos” se colocam diante desse fenômeno? Estamos, sem dúvida diante de um novo fenômeno, no qual os repertórios antigos não servem para o abordar.
Nesta contemporaneidade está se processando uma mudança significativa nas formas de representação iconográficas, mudança esta promovida pelas mutações tecnológicas em curso.
- A imagem artesanal do Único: uma metáfora:
A imagem nascia nas mentes pré-históricas como modelo cosmogônico. A criação de imagens processava-se através da imagem-modelo-mental como forma de energia em ressonância com seu suporte e instrumento. Era a imagem essencialmente mágico-religiosa e unívoca da era da Grande Caça, a imagem do mito... da integração metafísica entre o Celeste e o Terreno. Uma imagem demiúrgica.
Com a invenção da escrita muita coisa se transforma, o pensamento racional torna a imagem religiosa em profana e física e a imagem do Cosmos é substituída pela dos homens, do deus-artísta. E as imagens passaram a ter outras interpretações.
Energia e arte são dois aspectos que se realimentam e participam da mesma natureza.
Na produção imagética pré-industrial, segundo o modelo oriental, o espontâneo e o reflexivo encontram-se em harmonia, o segundo construindo o primeiro, ressonantemente.
- A imagem industrial: o Reprodutível:
O processo se inicia no Neolítico (cestaria, tapeçaria, tecelagem, etc.) continua depois com as artes gráficas, que consubstanciam como imagens técnicas de massa.
No processo de invenção que visa à reprodução, a parte reflexiva é encapsulada no projeto e depois interpretada pela máquina. Da criação até a produção o projeto atravessa sintaxes, esquemas, normas, onde é possível o desenvolvimento e controle científico, tanto quanto estético.
O processo industrial é essencialmente científico. Podem-se distinguir três aspectos nas relações entre imagem-máquina: Reprodução, Produção e Kitsch.
- A imagem pós-industrial: o Disponível:
A terceira fase da Revolução Industrial, da era eletrônica, supõe um salto revolucionário. Se o modo de produção industrial se caracteriza pela produção de imagens a partir de artefatos ótico-mecânicos (fotografia) ou eletromecânicos, a produção pós-industrial caracteriza-se, dominantemente, pelo uso de aparelhos de natureza numérica e digital (infografia ou computação gráfica) e fotônica (holografia) que permitem produzir informação visual, verbal e sonora que, possivelmente, serão traduzidas em objetos ou, ainda, transmutados em outras linguagens, em processos intersemióticos de multimídia.
- Tipologia de imagens:
Conforme os caracteres de seus suportes, as Novas Iconografias podem ser: Numéricas ou digitais, Eletromagnéticas e Holográficas. As novas iconografias eletrônicas têm sua essência na luz. Também são produto das relações entre o analógico e o digital, que se combinam para quantificar e qualificar a informação.
O conjunto das imagens eletrônicas de cunho digital pode ser articulado em três categorias: Imagens de Síntese, Imagens processadas e Composição de imagens.